segunda-feira, junho 19, 2006

O ESPÍRITO DO KARATEDO: Movimento inicial e postura


Nos primeiros tempos do KarateDo, alguns anos depois de 1935, os clubes de Karate de colégio por todo o Japão, mantinham encontros entre si. Estes encontros eram chamados de Kokangeiko (práticas de cortesia), onde os participantes eram livres de se atacarem uns aos outros com todas as técnicas à sua disposição. A seu objectivo original era promover amizade entre clubes.

Estes encontros consistiam na demonstração de Katas e num conjunto de padrões de defesa e ataque ou a pratica do ataque e contra-ataque. Este último idealizado numa relação formal. Uma pessoa atacava apenas uma vez e por sua vez o seu oponente contra-atacava de novo apenas uma vez. Assim, continuavam alternando controladamente.

Mas o sangue jovem dos estudantes corria demasiado quente para serem satisfeitos com tal mansidão. Eles não conseguiam resistir à tentação de usar o máximo de técnicas que tinham aprendido e as capacidades que tinham obtido através do treino diário.

Havia cinco ou seis concorrentes de cada universidade neste género de combates livres. Soltando gritos ferozes ao sinal, os adversários começavam a combater. Se alguma situação complicada se desenvolvesse, era da responsabilidade dos juízes intervir e separá-los. A verdade é que os juízes raramente tinham tempo de exercer a sua responsabilidade. Estava tudo acabado em 30 segundos. Alguns dos concorrentes tinham dentes e narizes partidos, outros tinham os lóbulos das orelhas praticamente arrancados ou estavam paralisados com um pontapé na barriga. Os aleijados encolhiam-se aqui e ali espalhando-se pelo dojo - era uma cena sangrenta.

O Karate, nos seus primeiros tempos, não tinha regras de combate, apesar de haver um acordo de cavalheiros em que se evitava os golpes aos órgãos vitais. Mesmo com tantos feridos, o costume de realizar estes combates manteve-se popular durante algum tempo.

Eu era aluno de Karate num clube nesses tempos. Se esse costume continuasse, temia eu, o Karate degenerava numa técnica bárbara e perigosa. Mesmo assim, derrotar um adversário é o objectivo comum a todas as artes marciais. O praticante tem de poder combater livremente, usando as suas técnicas se quer manter as suas capacidades. Se é assim, pensei eu, então o Karate é demasiado poderoso e perigoso para combates de competição.

O Karate desenvolveu-se em Okinawa, onde as pessoas eram estritamente proibidas de usar armas. Os praticantes lá, treinavam geralmente sozinhos através da prática centrada no Kata. Eles não disputavam combates. Embora nós possamos manter a nossa técnica através de prática sem um oponente, nós não podemos melhorar a nossa condição mental e física na preparação para o combate real.

Especificamente, nós precisamos de aprender a ultrapassar a nossa ansiedade e a saber a que distância devemos estar do nosso oponente. Sem a prática com um oponente nós não temos a chance de treinar ao máximo das nossas capacidades. Eu estava numa incerteza. Combater é perigoso, mas combater é indispensável. Apenas através do combate é que conseguimos manter as capacidades essenciais para a nossa arte marcial.

Mesmo depois de licenciado na Universidade, eu continuava na esperança de ver o desenvolvimento de um tipo de combate que tornasse o Karate numa arte marcial moderna. Eu cheguei a organizar alguns combates em que os participantes usavam equipamento de protecção, mas esse tipo de acessórios era um obstáculo e acabou por ser mesmo a causa de algumas lesões. Eu tinha de continuar em busca de uma solução, isto tudo um pouco antes do começo da IIª Guerra Mundial.

Depois da Guerra, o Japão abandonou a consciência militarista do passado e fez um novo começo como uma nação pacifista. Mesmo assim, os clubes de Karate continuavam a efectuar os seus campeonatos de combates selvagens e os lesionados continuavam a amontoar-se. Num clima de paz, a violência sob qualquer forma era uma situação condenável. Se o Karate continuasse como estava, acabava por ser visto como uma representação concreta da violência e acabaria certamente por desaparecer. Contudo, o Judo e o Kendo estavam a desenvolver-se como desportos. Os gloriosos campeonatos entre nadadores ou jogadores de basebol iluminavam a tristeza do pós-guerra. Os jovens praticantes de Karate esperavam que o Karate se tornasse num desporto, que tivesse regras para os combates.

Eu pensava que já era tempo de fazer do Karate um desporto. Estudei as regras de muitos desportos e observei muitos campeonatos. Finalmente, desenvolvi regras para os combates e estilos de luta que permitissem aos praticantes usar o máximo das suas técnicas sem se aleijarem uns aos outros. No entanto, se pusermos demasiado ênfase no combate, perdemos em técnica. Para prevenir essa situação, resolvi criar também campeonatos de Kata.

Os campeonatos que desenvolvi consistindo em Kata e combate livre, foram realizados pela primeira vez em Tokyo no All Japan Grand Karate Tournament, em Outubro de 1957, com o patrocínio da Japan Karate Association. Os combates foram bastante impressionantes, com rápidos ataques e contra-ataques e técnicas bem controladas. Os participantes em Kata realizavam rápidos e bonitos movimentos. Ambos os combates e os Katas impressionaram bastante a audiência. Nem sequer um dos praticantes de combate livre ficou lesionado. Os novos combates foram um grande sucesso. Esse foi o começo dos combates praticados hoje em campeonatos de Karate em todo mundo. Finalmente uma forma de combate próximo do combate real acabava por chegar ao público.
Como podem ver, eu resolvi o impasse em que me encontrava e tive sucesso ao criar novas formas de combate. Mas no entanto ainda temo por uma coisa: conforme os combates de Karate se vão tornando populares, os praticantes de Karate tornam-se demasiado absorvidos na vitória. É fácil pensar que ganhar um ponto é importante, e os combates provavelmente perderão a rapidez de acção característica do Karate. Neste caso, os combates de Karate degenerariam numa mera troca de golpes. Mais ainda, eu não poderei dizer se a ideia de combates livres vai de acordo com a ideia do espirito do Karate, ensinado pelo Mestre Funakoshi, o fundador do Karate-Do. Pelo que irão ver mais tarde, o espirito do seu Karate exigia um elevado sentimento ético.

O Mestre Funakoshi, várias vezes recitava um velho ditado de Okinawa que dizia: "Karate é a arte dos homens virtuosos". Escusado será dizer que para os praticantes de Karate demonstrarem o seu poder e técnica em rixas de rua, estarão a ir contra o espirito do KarateDo, o significado de KarateDo vai para além das vitórias em campeonatos ou das técnicas de auto-defesa. Ao contrário dos desportos mais comuns, o Karate-Do tem um espirito próprio. Ser um verdadeiro Mestre é compreender o espírito do Karate-Do como uma arte marcial.

O KarateDo tem-se tornado popular nos nossos dias, e o seu espirito poderá se desvanecer das nossas mentes. A partir deste ponto, eu poderia falar do espirito do Karate, retornando às raízes do seu caminho marcial.

Diz-se que "no Karate não existe primeiro ataque" (sente). Isto é uma advertência para os praticantes não lançarem o primeiro ataque e uma estrita proibição contra o uso consciente das técnicas de Karate.

Os Mestres de Karate, especialmente o Mestre Funakoshi, advetia os seus alunos com essas palavras vezes sem conta. De facto, não é um exagero dizer que elas representam o espirito do Karate.
Em Karate, todo o poder do corpo é focado num só ponto, como um punho ou um pé, de modo que toda a sua energia destrutiva é libertada num único momento, por isso o aviso: "vejam sempre os vossos punhos e pés como se fossem espadas. Num combate, o punho ou pé do atacante é em principio, dirigido a um ponto alguns centímetros do corpo do oponente, de maneira a não causar nenhuma lesão. Da consideração por tal poder destrutivo, vêm as palavras: "em Karate não existe primeiro ataque".


Por : Shihan Masatoshi Nakayama
(publicação no nº 46 da Fighting Arts International Magazine

sábado, junho 03, 2006

CURSO DE KARATEDO VILA DE MIRA


Data 17 e 18 de Junho

Horários: Sab: das 09.00 até às 10.30-Todas as graduações
Das 10.30 até ás 12.30- A partir de 6º kyu
Das 17.00 até às 18.30- Todas as graduações
Das 18.30 até às 20.00- A partir de 6º kyu
Dom.: Das 09.00 até às 10.30- Todas as graduações
Das 10.30 até ás 12.30- A partir de 6º kyu

Local: Pavilhão do Clube Domus Nostra, Portomar, Mira.

Preço: 20 Euros

Instrutor: Sensei Vilaça Pinto 6º Dan

Informações: E-Mail1
E-Mail2